quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mosaico

No post abaixo, divaguei muito na parte do quanto estamos sem a capacidade de analisar e questionar informações oferecidas. Agora é hora de dizer porque não acredito em fluxogramas de classificação. Ainda mais quando se trata de pessoas. Para o próximo, talvez eu escreva sobre a complexidade dos seres humanos e a fragilidade de fluxogramas!

Há um tempo atrás li um texto muito bom da minha grande amiga Fernanda! Uma escritora nata e que mantém o blog Degustação Literária com textos próprios. O texto que em questão se chama Mosaico e mostra uma analogia interessante entre o Mosaico e a essência da vida. E como o ser humano é dinâmico, repaginando-se sempre. Estamos em constante mudança. Nosso estilo, opiniões, desejos, pensamentos, atitudes e etc.

Levando para um nível mais baixo ainda, quantos dias em que acordamos bem, mas uma simples fechada no trânsito serve de gatilho para uma rede de acontecimentos ruins e para fazer você desejar apenas a sua cama no final do dia! Às vezes um simples acontecimento faz com que todos os outros acontecimentos fiquem ruins e ganhem um peso enorme. Você toma a fechada! Cola no lado do carro que te fechou e despeja toda a sua ira! Continua a dirigir para o trabalho resmungando que os seres mais calmos do universo estão na sua frente!

Não! Não estou dando uma de guru de auto-ajuda e dizendo que sua irritação ocasionou um dia ruim. Não acredito nisso, o universo não conspira. Estou pinçando um acontecimento corriqueiro (aqui em SP pelo menos) em um dia normal e como isso deturpa a nossa mente. Em dias como esses, tomamos atitudes que raramente tomamos. Uma brincadeira comum de um amigo de repente virá como um insulto, um desrespeito. E você responde à altura.

Um fator ínfimo altera o seu estado a tal ponto que suas atitudes tomadas e suas interpretações não refletem a sua personalidade. É aí que entra a diferença vertiginosa entre os verbos ESTAR e SER. No exemplo dado acima, você ESTÁ nervoso ou você É nervoso? No passado é pior ainda! Você ESTAVA nervoso ou você FOI nervoso? O peso do verbo ser é monstruoso quando se trata de pessoas.

Seres humanos são instáveis, logo suas classificações deveriam ser também.

Identificando um cafajeste, Piriguete, Carnê das Casas Bahia e o quê você pensar!

A criação de padrões e classificações para tudo e todos é uma necessidade imensa dentro da nossa sociedade. Sempre que nos deparamos com uma situação ou uma pessoa desconhecida, iniciamos o processo de classificação científica. Como um biólogo que precisa classificar uma espécie. É uma espécie já existente ou é nova? Análise, questionamento e identificação/classificação. É meu amigo? É gente boa? Dá para confiar? Ela está afim de mim? Ou a mais clássica da mamãe: "É boa pessoa? Não é mau caráter?"

Não é difícil enxergar essa realidade. Existem títulos e mais títulos desse gênero em blog's, revistas ou qualquer outro meio de comunicação. Para ilustrar um exemplo, esses dias eu recebi de uma amiga um link do Manual do Cafajeste (Para Mulheres) - Identificando uma Ordinária - Dando uma olhada pelo blog percebe-se que o intuito é realmente a ajudar mulheres e/ou homens a identificar situações e tipos de pessoas, tendo como base a experiência própria do autor e seu compartilhamento de informações com os leitores. Questionar se o raciocínio usado e a forma da ajuda é coerente ou não, está fora do alcance pelo menos nesse post, fica para um próximo, mas com certeza não é um dogma.

O medo do desconhecido é umas das razões para essa necessidade de classificação - (Esse é outro post também). Afinal, tememos o desconhecido. Mas isso não é novidade. O quê é novidade é a procura de ajuda para fazer essa classificação. Deixou-se de fazer essa análise individual e particular, para uma procura de "Fluxograma" de definição.

Hoje, você vai ao google e digita: "Identificando um cafajeste" ou "Identificando uma piriguete" e você encontrará milhares de páginas com títulos: "Super 10 dicas para identificar XXX" - (Substitua o XXX pela palavra que você queira).

Podem até chamar de "A Era da informação", mas a perda de discernimento próprio ou a adoção de informação sem questionamento pode ser algo perigoso. Afinal, se já era clássico a sua professora de história do ensino médio perguntar: "Você acredita em tudo que o Jornal Nacional passa? Alienado", para a web é a mesma coisa! Você vai acreditar em qualquer asneira que um blogueiro escreve no anonimato? Inclusive em mim mesmo?

Hoje eu entendo porque várias professoras diziam para os alunos. "Vocês estão perdendo a capacidade de raciocinar!" - E não tem como negar. Procuramos informações cada vez mais resumidas e enxutas. Apenas absorvemos, sem análise ou questionamento. Chegaremos a um ponto em quê teremos o seguinte: "Identificando um serial killer em 5 passos"!